Há um tempo atrás, eu assisti um shorts no youtube que te ensina a calcular uma aproximação para qualquer raiz quadrada não exata. Veja-o:
Meu objetivo nesse post é deduzir a fórmula dada no shorts.
Infelizmente usarei conceitos de Cálculo 1 na dedução que farei. Então você não entenderá a dedução se não estudou cálculo ainda :/
Mesmo nesse caso, sugiro que siga lendo até as coisas ficarem confusas. Na pior das hipóteses pule pro exemplo, que é apenas eu usando a fórmula do vídeo.
Pré-requisitos da geometria analítica
A dedução que vamos fazer é na verdade a aproximação linear da função . Não se assuste com o nome pois a ideia é bem simples, como você verá a seguir.
Primeiramente, sabemos que o gráfico da função é:

Calcular a raiz quadrada de um número é o mesmo que encontrar a ordenada do ponto
, que pertence ao gráfico de
:

Portanto, saberemos calcular a raiz quadrada de qualquer número real se conseguirmos calcular a ordenada de qualquer ponto no gráfico de .
Agora que transferimos nosso problema para a geometria analítica, usaremos o cálculo.
Pré-requisitos do cálculo
Com as técnicas do cálculo, conseguimos obter uma fórmula que nos dá os coeficientes angulares de todas as retas tangentes à função , isso é justamente o que chamamos de derivada de
.
Se soubermos as coordenadas dos pontos de tangência (que pertencem tanto à reta quanto a função), poderemos unir essa informação com os coeficientes angulares e descobrir as equações de todas as retas tangentes a .

O problema é que num ponto em que a abscissa não é um quadrado perfeito, teríamos que calcular uma raiz quadrada não exata para descobrir sua ordenada. E como a derivada da nossa é
, teríamos que calcular a mesma raiz quadrada não exata para descobrir o coeficiente angular da reta tangente ao ponto.
Mas caso a abscissa do ponto seja um quadrado perfeito, conseguimos descobrir a equação da reta tangente a esse ponto sem ter que calcular nenhuma raiz quadrada não exata.
Dito isso, a pergunta natural que surge é: “isso nos ajuda em algo?” E a resposta é sim.
Perto do ponto de tangência, as retas tangentes se parecem bastante com a função. Então ao invés de calcular diretamente a ordenada do ponto , podemos usar a equação da reta tangente a um “ponto quadrado perfeito” próximo de
e então calcular a ordenada do ponto que tem a mesma abscissa mas que se encontra na reta tangente.
Por exemplo, ao invés de calcular a ordenada do ponto , podemos calcular a reta tangente ao ponto
e então calcular a imagem de
na reta tangente, e não no gráfico da função.

Então saber calcular a reta tangente a pontos específicos nos dá uma forma de calcular aproximações de todas as ordenadas dos pontos de , sendo que quanto mais próximo o ponto específico tiver do ponto que queremos calcular a ordenada, melhor a aproximação.
Você verá que a dedução que farei a seguir consiste em calcular a imagem de todo número real na reta tangente que sabemos calcular mais próxima. É exatamente isso que chamamos de aproximação pela reta tangente de em um ponto (ou aproximação linear de
em um ponto).
A partir daqui farei contas com esses conceitos, então o post ficará ainda mais difícil para aqueles sem conhecimentos de cálculo.
Dedução
Seja tal que
e seja
o número que queremos calcular a raiz quadrada.
Seja o quadrado perfeito mais próximo de
. Como a derivada de
é
, temos que a reta tangente ao ponto
tem a seguinte equação:
Chamamos essa equação de linearização de em
.
Por tudo o que foi dito, se calcularmos a imagem de nessa reta, teremos uma aproximação de
. Logo:
Isolando nessa “equação” obteremos:
Essa é a aproximação linear de em
. E também é a fórmula do shorts que queriamos deduzir!
Exemplo
Agora que deduzimos a fórmula, para calcular a aproximação de uma raiz quadrada não exata, basta literalmente só usá-la xD
Não há nenhum segredo nisso, o que farei é quase o mesmo que o professor do vídeo fez, com a diferença de que calcularei uma aproximação para e não
.
Como o quadrado perfeito mais próximo de é
, temos que:
A resposta “exata” de é:
Diário de estudos
Generalização dessas ideias
O motivo de eu ter escrito esse post é que atualmente estou fazendo Cálculo 3, e uma das coisas que tive que estudar foi aproximações lineares de funções de duas variáveis. A ideia é a mesma, só que ao invés de retas tangentes e curvas, trabalhamos com planos tangentes e superfícies.
Mas, apesar da ideia ser a mesma, aumentar uma variável faz tudo ficar muito mais confuso, e é por isso que optei por escrever sobre funções de uma variável. Eu mesmo sinto que não venho aprendendo quase nada em Cálculo 3 justamente por causa da complexidade do curso (assim como em todos os outros ;-;)
Dúvidas sobre o tema
Para finalizar, quero comentar sobre duas dúvidas que tive enquanto escrevia esse post. Uma delas eu já tenho a resposta (mas é muito interessante) e a outra não.
A que eu tenho a resposta é: por que as aproximações que obtemos são sempre maiores que o valor real?
Caso não tenha notado isso, sugiro fazer alguns exemplos para se convencer de que isso é verdade.
Caso queira entender porque isso acontece, a resposta é que as retas tangentes sempre estão acima do gráfico da função raiz quadrada. Mas não acho que isso seja verdade para aproximações lineares de qualquer função.
A dúvida que eu não tenho resposta é: uma equação possui infinitos lugares geometricos?
Pergunto isso pois, se estivermos no , o lugar geométrico de
não é o que vimos aqui. Na verdade, ele seria o conjunto dos pontos da forma
, onde
pode ser qualquer número real. Isso dá a seguinte superfície:

Quer dizer que o lugar geométrico de uma equação depende do “ambiente” em que estamos? Isso é muuuito estranho.
Referências
Cálculo (Volume 1, 7ª edição) – James Stewart. O Stewart explica tudo que eu disse nesse post na página 226.
Obrigado por chegar até aqui ^^
Caso tenha gostado, leia meu outro post:
Dedução da soma dos termos de PG’s finitas e infinitas – Quarto 707